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Literatura: Elza



“Não tenho idade, Zeca, tenho tempo”

Com esta frase, Elza e Zeca vão dando tom à conclusão do Livro Elza, escrito por Zeca Camargo e Elza Soares – Elza, generosamente, expressando, contando e Zeca, cuidadosamente, escutando, escrevendo. Como recomendar uma obra falando do seu final? Talvez, esta seja a forma que encontramos para elaborar esta experiência tão pungente e transformadora que é a leitura desta narrativa! A partir de um texto prazeroso, Zeca desfia o novelo da história desta mulher singular que dispensa comentários, por sua trajetória pessoal e profissional. Uma historicidade permeada pela escassez em suas condições concretas de existência, desde as dificuldades e lutas de seus pais, Seu Avelino e D. Rosária, para dar conta do sustento dos filhos e reproduzida pela adolescente família constituída tão cedo – Elza, Alaordes e seus filhos Carlinhos, Gilson, Gerson e Dilma – Filhos que à fortalece e impulsionam na busca de dias melhores através da música. ​​ Passeando pelo cenário musical das décadas de 1950 à 2018 e tendo como fio condutor a biografia de Elza, somos contemplados pelo contato com personagens artísticos, como Ary Barroso, Moreira da Silva, Silvinha Telles, Lúcio Alves, Lupicínio Rodrigues, Louis Armstrong, Grande Otelo os irmãos Cauby e Moacyr Peixoto, Astor Piazzolla, Ronaldo Bôscoli, João Gilberto, Bibi Ferreira, Marieta Severo, Chico Buarque de Holanda, Caetano Veloso, Lobão, Cazuza, Seu Jorge, dentre tantos outros, com os quais Elza, dona de um talento inenarrável, veio renovando-se musicalmente e posicionando-se ideologicamente frente a questões fundamentais, como por exemplo, o racismo estrutural e desigualdades sociais, o que a mantém por merecimento e reconhecimento na cena musical planetária até os dias de hoje.


São 17 capítulos celebrando uma trajetória artística e também humana de uma mulher que não abre mão do seu amor, equilibrando-se na corda bamba entre amores e dores; suas escolhas e as consequências destas - A exemplo do casamento com o Jogador Mané Garrincha – toda a reação de uma sociedade que ainda não estava preparada para esta mulher, para este amor. Ainda que experimentado perdas e ganhos ao longo de uma vida vivida ao extremo do amor, do prazer e da dor, enverga, mas não se quebra; sem renunciar ao seu direito de amar e ter prazer, nas duas últimas décadas, Elza questiona o padrão estabelecido para a mulher com mais de sessenta, mantendo-se ativa, envolvendo-se amorosamente, em movimento, aprendendo, criando, transformando-se e transformando a realidade que a cerca, com seu posicionamento e sua arte.

Enfim, talvez nada do que se diga vai traduzir as sensações desta leitura! Então, recomendamos: Vale Conferir!

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